PALACIO PAIAGUAS
“Nós acreditamos que quando há alguma dúvida de conduta de qualquer uma dessas autoridades com foro, as investigações devem ser rápidas e céleres, para que isso tenha um efeito pedagógico; já falei isso e vou repetir: a corrupção fede, tem que ser combatida duramente”, pontificava não faz muito tempo o governador que talvez pareça a alma mais honesta deste país – depois do Lula, evidentemente.
Será que Mauro Mendes abrirá ao repórter as portas do gabinete no Palácio Paiaguás para falar sobre o caso do falso laudo assinado três dias depois da aprovação para FCO de R$ 2,3 milhões à ‘cervejaria’ do perito forense Thyago Machado?
HAROLDO ASSUNÇÃO
"Você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não consegue enganar todas por todo o tempo", ensina a verdade eternizada nas palavras do talvez mais venerado presidente da história dos Estados Unidos da América, Abraham Lincoln (1809-1865).
O ainda governador de Mato Grosso Mauro Mendes Ferreira é a prova encarnada do quanto permanece atualíssima e válida a sentença do célebre 16º presidente norte-americano.
Sofrido reconhecer ter sido também enganado e por três vezes confiado a ele o voto por acreditar que seria o menos pior disponível no cardápio.
Este repórter votou nele para prefeito da capital em 2012 e depois para governador em 2018, conforme aqui registramos em artigo de opinião - publicado na manhã do dia 29 de novembro de 2020 por ocasião do segundo turno - intitulado “Mauro Mendes é o grande perdedor da eleição em Cuiabá”.
HAROLDO ASSUNÇÃO
HAROLDO ASSUNÇÃO
Em verdade também havia votado nele em 2010 quando perdeu a disputa ao governo de Mato Grosso para Silval Barbosa – de triste memória, mencionaria Mendes em delação premiada depois de preso.
Naquela ocasião, o voto foi contra Silval – assim como seria contra o PT na eleição que o consagrou prefeito da capital em 2012. Bem claro, contra o PT, não contra o então candidato Lúdio Cabral, hoje deputado estadual – o qual conheço de longa data desde os tempos da Fufu e a quem deveras respeito e estimo. Da mesma forma, na eleição para governador, não votei em Mendes, mas contra Pedro Taques, do qual ninguém tem saudade.
VESTAL DESCABAÇADA
‘Vesta’ era a deusa romana do lar e seu culto o mais antigo da religião romana - foi o que mais resistiu à influência cristã.
As candidatas a sacerdotisas de Vesta deviam ser filhas de pais livres e respeitáveis e não ter defeito físico ou mental. Eram em número de seis. Iniciavam-se entre os seis e dez anos, permaneciam por trinta anos a serviço da deusa, durante os quais deviam conservar-se virgens. Se faltassem às obrigações eram castigadas fisicamente e, caso violassem o voto de castidade, eram enterradas vivas.
Com o passar dos tempos a palavra “vestal” passou a ser utilizada para designar pessoa de moral ilibada, honesta e que leva sua vida com dignidade.
Desde que se lançou pela primeira vez à política – nas eleições municipais de 2008 quando não teve nosso voto e foi derrotado pelo hoje deputado estadual Wilson Santos – Mauro Mendes posa de bom moço, todo certinho, muito família e coisa e tal.
Arauto da moralidade apresentava-se quase como a última vestal do cerrado, quiçá a deusa Vesta em pessoa – vale lembrar que a divindade romana parece em antigas representações acompanhada por um asno, e que o Rei Midas tem orelhas de asno.
HAROLDO ASSUNÇÃO
Com a licença da liberdade metafórica, parece que o rei está nu e “não é o vestido que tornará vestal a messalina”, conforme já advertia o Imperador Pedro I. Talvez tenha sido já há muito “descabaçada” a vestal de prostíbulo – figurativamente falando, claro.
De entrevistas suas recolhe-se pérolas de moral – falsa, é o que agora aparenta – e zelo pelo bem público, assim como bem representada indignação frente ao mal da corrupção na política.
NO PALETÓ DOS OUTROS É REFRESCO
“Já falei isso e vou repetir: a corrupção fede, tem que ser combatida duramente”, disse no discurso na abertura do “Seminário Ajuste Fiscal ou Desgoverno”, realizado pelo Tribunal de Contas de Mato Grosso (TCE-MT).
“Nós acreditamos que quando há alguma dúvida de conduta de qualquer uma dessas autoridades com foro no Tribunal de Justiça, as investigações devem ser rápidas e céleres, para que isso tenha um efeito pedagógico e também para evitar que danos ocorram ao erário e que alguma ação tomada por alguma dessas autoridades possa trazer prejuízos”, destacou o governador em solenidade na qual assinou termo de cooperação com o Ministério Público Estadual para fortalecer as investigações de condutas delituosas praticadas por agentes públicos detentores de foro por prerrogativa de função no Tribunal de Justiça de Mato Grosso.
Durante a campanha das eleições municipais do ano passado então, o governador personificava a pureza encarnada quando achincalhava o prefeito da capital por conta do dito ‘causo do paletó’ – foi do carinhoso “malandro de carteirinha” pra baixo da linha de cintura a ferina cantilena do governador contra o desafeto.
“Como cidadão cuiabano, gostaria que ele se explicasse. Senão, fica realmente uma mancha. Se é inocente, no outro dia teria que publicamente se explicar”, disse Mauro em entrevista à uma emissora de rádio.
Flagrado com a mão no pacote pela arapongagem ‘barbosiana’ – ou seria lombrosiana? - o prefeito ainda que tardiamente e de maneira tímida conforme registramos no artigo sobre a eleição pelo menos tentou explicar as cenas da grana nos bolsos do paletó – e parece colou ‘pro povo’ que o reelegeu.
“NOTAS OFICIAIS”
O governador por seu turno dissimula e nega desde o começo há sete anos.
“É mentira não existe nenhum encaminhamento no MPF; são inimigos políticos que inventam mentiras para denegrir a minha imagem”, disse o então prefeito, depois que o jornalista Fernando Gallo do ‘Estadão’ alçou a trama ao conhecimento nacional.
Desde então o governador Mauro Mendes jamais explicou o nebuloso caso da manobra judicial orquestrada pelo ex-juiz trabalhista Luís Aparecido Ferreira Torres que permitiu a ele e seu sócio Valdiney Mauro de Souza vulgo “Ney” assumir o controle da Minérios Salomão.
De igual sorte as poucas manifestações do ainda governador à imprensa foram umas poucas “notas oficiais”, faz sete anos desde quando ainda era prefeito de Cuiabá.
À parte o silêncio cúmplice – salvo raríssimas e honrosas exceções – da “valorosa” bem acostumada a ‘releases chapa-branca’, rega-bofes palacianos e claro, “notas oficiais” – e bota “notas”, e bota “oficiais” nisso.
FCO AQUI É MATO
Sete anos depois que tudo começou, agora foi revelado pelo repórter que as digitais do governador de Mato Grosso talvez estejam ocultas por detrás da famigerada Resolução nº 007/2020/CODEM chancelada pelo procurador-geral do Estado e cinco secretários que incluíram entre as “prioridades do Estado” a proposta de crédito privilegiado FCO Empresarial em valor superior a R$ 2,3 milhões a uma tal Cervejaria Preis Bier da qual é dono o perito forense Thyago Jorge Machado - três dias após a aprovação do financiamento ele assinou falso exame grafotécnico que teria o condão de salvar a pele de Mauro Mendes em ação de improbidade administrativa movida pelo MPF.
A aprovação da carta-consulta no Conselho de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso (Codem/MT) - no qual são conselheiros o procurador-geral do Estado e quatro secretários - aconteceu em reunião extraordinária (e bota “extra”, e bota “ordinária” nisso) realizada no dia 17 de novembro de 2020 e publicada pelo Diário Oficial à página 37 da edição nº 27.880, que circulou no dia seguinte, aos 18 de novembro de 2020 – Resolução nº 007/2020/CODEM assinada pelo presidente do colegiado, secretário César Miranda.
HAROLDO ASSUNÇÃO
HAROLDO ASSUNÇÃO
HAROLDO ASSUNÇÃO
HAROLDO ASSUNÇÃO
Dois dias após a publicação do aval palaciano ao milionário e privilegiado financiamento com recursos federais para a Cervejaria Preis Bier Ltda - em cujo endereço prospera densa e vigorosa plantação de capim - o dono da empresa e perito forense Thyago Jorge Machado assinou o falso exame grafotécnico claramente forjado a fim de inocentar o governador Mauro Mendes e os demais réus na ação de improbidade administrativa na Justiça Federal.
VAI FUGIR DO DEBATE?
O jornalista enviou na sexta-feira (12) à secretária-adjunta de Comunicação, jornalista Laice Souza, solicitação de entrevista com o governador de Mato Grosso Mauro Ferreira Mendes sobre o caso do falso laudo supostamente ligado à aprovação oficial do FCO Empresarial de R$ 2,3 milhões à ‘cervejaria’ do perito que o forjou em benefício da defesa no processo de improbidade administrativa que move o MPF contra o chefe do Executivo na 3ª Vara Federal de Cuiabá.
Lembram do que ele mesmo falou lá atrás, na entrevista à rádio?
Pois é.
Pimenta no paletó dos outros é refresco.
Então, parafraseando o chefe do Executivo de Mato Grosso:
“Como eleitor mato-grossense, gostaria que ele se explicasse. Senão, fica realmente uma mancha. Se é inocente, no outro dia teria que publicamente se explicar”.
Ou vai fugir do debate, excelência?
Com a palavra, o governador Mauro Mendes Ferreira.
0 - http://www.brasilnoticia.com.br/geral/mauro-mendes-e-o-grande-perdedor-da-eleicao-em-cuiaba/17132
1- https://www.brasilnoticia.com.br/corrupcao/perito-contratado-cometeu-erro-grosseiro-no-laudo-grafotecnico-em-acao-de-improbidade-movida-pelo-mpf-contra-mauro-mendes/17423
2 - https://www.brasilnoticia.com.br/o-bocao/mauro-mendes-e-socio-teriam-pago-r-20-milhoes-por-mina-de-ouro-esgotada/17460
3- https://www.brasilnoticia.com.br/geral/mpf-investigara-crime-de-falsa-pericia-em-acao-de-improbidade-contra-o-governador-mauro-mendes/17477
4 - https://www.brasilnoticia.com.br/geral/por-que-razao-tanto-interessa-a-defesa-de-mauro-mendes-e-ney-impugnar-o-laudo-de-avaliacao-da-minerios-salomao/17478
5- https://www.brasilnoticia.com.br/corrupcao/perito-mentiu-para-nao-explicar-falsidade-em-exame-grafotecnico-na-acao-do-mpf-contra-mauro-mendes/17484
6 - http://brasilnoticia.com.br/geral/aprovacao-para-fco-de-r-23-milhoes-seria-o-preco-de-falsa-pericia-em-acao-do-mpf-contra-mauro-mendes/17521
7- https://www.brasilnoticia.com.br/geral/socio-de-mauro-mendes-na-mineradora-maney-casa-de-pedra-e-perito-contratado-serao-investigados-pela-procuradoria-da-republica/17531